sábado, 11 de outubro de 2008

Risadas, pouco espaço, muito café e...

Interessante observar como o ano de cursinho é um ano de amadurecimento para os alunos. A segurança de estar no colégio, de estar por certo período de tempo no mesmo lugar, acaba.

No cursinho a certeza acaba. Todos querem passar de forma rápida, quebrando uma continuidade, passando exageros talvez não permitidos num ambiente social contínuo. Você tem um ano (o esperado) para, aprender, conhecer, crescer, relembrar e se destacar de alguma maneira no meio de um verdadeiro mar de gente.

No colégio, após certo período de tempo, as relações são fixas, todos já viram seu rosto e fizeram um estereótipo geral. No cursinho, cada dia é uma cara nova, e se fixar é difícil. Tentar mostrar quem você é se torna comum. O diferente vira padrão. É preciso se vasculhar para montar um novo e "verdadeiro" eu.

E é no novo - no não fixo - que sentimos medo. Medo da decepção, medo de decepcionar, medo de pensarem errado, somado ao medo do até então temido vestibular. Mas nesse contexto de medos, incertezas e descobertas, o vestibular se torna secundário... E é nas vésperas de novembro que muitos acordam e relembram o motivo primário de estarem lá, a aprovação (desabafo). E acordar desse monumental amadurecimento dói. Acostumamos a crescer, e voltar a pensar em provas e simulados parece pequeno. O cursinho nos "espicha" nos mostrando o real. Mostra a concorrência, o aperto, o desespero e as cervejas de sexta (ou de todos os dias). Mostra o incerto, a vida. E atribuir todo esse borbulhar de vida e descoberta ao cursinho mostra que lá é apenas um lugar onde pessoas, por aparentemente um único motivo (o da não aprovação) se reúnem e sabem que nem todas conseguirão. "Sua vitória está na derrota de outros". Sabemos disso e continuamos fazendo amizades, concorrentes ou não.

Essa contradição é uma frestinha de vida. Com algumas almofadas a mais para proteção, como os professores, as piadas, os barulhos, a orientação, o popa, e muitos, muitos quadradinhos para nos orientar, já que ainda somos imaturos para lidar com essa avalanche de ar fresco e inovador.

Essa é a minha visão de aluna, de passageira que depois vai seguir viagem. Penso (e certamente não sou a única) nos queridos funcionários que ficam. O professor Maurício disse certa vez "Eu sou o único que envelheço aqui!" e de primeira impressão, essa frase me causou certa agonia. Como é ser notado e não notar à todos? Como é receber mares de novas perguntas, questionamentos, visuais, cores, emoções? Como é estar estático e ao mesmo tempo tão mutável? Ter uma certeza de continuidade forte e ao mesmo tempo fraca, pois as aulas dependem dos alunos que são inconstantes. Como é se apegar e ter que largar sem ter a certeza do depois? Só com essas muitas (poucas em relação as outras tantas) perguntas é possível perceber o quanto os "mestres" também crescem. E talvez nem pensem tanto sobre isso. E achei interessante justamente uma pergunta aparentemente básica sobre "ser professor" causar (acho que novamente) esses questionamentos.

Todos lá deveriam se perguntar constantemente sobre o que é ser professor. Nem todos chegariam a conclusões brilhantes (acredito que uma faculdade de filosofia faça alguma diferença), mas certamente achariam algum motivo para seguirem em frente. Não é fácil conseguir conviver com essa panela de pressão (e estar dentro dela) sem o amor pelo o que se faz. E a continuidade do conhecimento, não da rotina, deve trazer uma enorme satisfação.

Odeio atribuir títulos que enaltecem as pessoas, a maioria deles são falsos. Não acredito ser inferior, e essa minha rebeldia de hierarquia traz coisas boas (e poderá me trazer coisas ruins também). Acredito com isso poder me relacionar com qualquer pessoa, e enxergar nela seus defeitos e medos, que me aproximam, como numa sincronia de questionamentos e vivências. O verniz da segurança me remete um tom de falsidade. E quando conseguimos quebrar essa casca e nos mostrar (parcialmente) verdadeiros, reconheço vitória, pois um medo foi vencido e outro adquirido, o do ser vulnerável.

Venci muito esse ano. Conheci pessoas incríveis. Fiz e aprofundei amizades. Aprendi a beber, a quase me vestir. Rodopiei por cursos e voltei ao mesmo. Sofri, ri, aproveitei. Cultivei uma possível gastrite, me atrasei. Aprendi atalhos pelo centro, conheci restaurantes sujos e bons, tenho truques pro metrô. Estudei menos que deveria e aprendi mais do que esperava. Cresci, e primeiramente... Vivi.

Espero seguir viagem, e levar comigo todos os questionamentos, medos e inseguranças que tanto me fizeram crescer, para nunca olhar minha vida como uma grande rotina, e sempre me renovar, nesse oceano de questões que é o ser humano.

3 comentários:

Gian disse...

Depois do Ser do professor, agora é a vez do Ser do aluno. Quero ver onde isso vai parar ! Ho ho ho !

Recomendei seu texto.

Vinicius disse...

Recomendado pelo Gian!

Talvez tenhamos nos esbarrado por algum canto do anglo, mas aqui somos apenas dois desconhecidos que nem podem reconhecer seus rostos!
Sabe quando a gente se encontra um pouco no texto de outros? Mais ou menos oque o Maurício disse uma vez, então... Muito do que disse também faz parte de mim!

Seja o ser do aluno, ou ser de cada um, ou questionamento shakesperiano qualquer... Gostei do seu texto!!

Ainda lerei os seus outros!

Muito prazer!!

Mário Augusto disse...
Este comentário foi removido pelo autor.