sábado, 28 de junho de 2008

Mais procuro, mais sofro, mais tento, mais me iludo
Vasculhar o passado, remediar o presente
Sofrer, sofrer.
Tento esquecer, me livrar, libertar...
Mas por inércia te procuro.
Descubro repetições, contradições
Não, só mais uma, sempre mais uma

Mais uma...
Uma cerveja, um cigarro
Um beijo, distração
traição?

Tudo já passou, já se foi
A covardia tem sim motivo, explicação
A preocupação de tudo se repetir...
Dor? Muita dor?
Quanto mais melhor...
Enveneno aos poucos minha paz
E alcanço a paz eterna da ilusão.

Tropecei, confesso.
Acreditei, sou ingênua.
Toda minha angústia
acumulada, depositada
enfeitada e venerada,
por mim.
Sim, por mim.

Mas a diferença,
e tão grandiosa, pelo que me parece
é que de ti nada espero
e não me pareces herói
mas fraco.
Fraco.
Com todas as imperfeições possíveis
E admito,
isso me atrai.

São nessas quedas
que recupero forças para esquecer
e é a dor que guia
meus dias,
aleatoriamente
numa repetição sem fim.

Inquieta sigo
Relembro o ontem
não me parece tão surreal assim,
tão perfeito assim,
tão falso.

Sinto raiva,
de perder-me em pensamentos
com você.
Se pudesse escolher,
nem um sorriso lhe daria
nem uma fresta de alegria,
uma risada sequer.

Tolo.
Seu medo é indiscutível,
e viverá assim para sempre
levado pela inércia
do saber.
Do saber?
A desculpa do saber...
especificamente.
Mas em matéria de amor
Nenhum ganha,
todos perdem.

domingo, 15 de junho de 2008

O sonho do viver

Sonhadora. Assim que se definiu Paola, com seus 13 anos de idade. Foi numa maçante aula de religião, em que a professora obrigou os alunos a se descreverem com dois adjetivos (o primeiro seria positivo, enquanto o segundo seria negativo), que a menina anunciou essa sua condição humana.
Se seria o defeito ou a qualidade, ela nunca soube. Os colegas admitiram com estranhamento, entendendo como dote. A professora, vendo a discrepância da resposta com o resto da turma, deixou a menina se pronunciar uma única vez.

A sonhadora acumulava em seus olhos a tristeza de saber que tudo aquilo não passava de um sonho. Uma fantasia. Seus desejos eram automaticamente convertidos em impossibilidades. Não conseguia entender o propósito de alcançar algo palpável. Tudo era uma mera utopia. Cresceu sabendo da ilusão do viver. E isso lhe seria útil na formação de seu verniz social - sua casca de proteção, sua muralha de sentimentos - sempre reforçado duramente com um sorriso no rosto.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Xeque mate



E pensando assim, perdida, como se não pudesse mais enxergar a verdade que brota diante de meus olhos, lembrei-me do quão diferente pode ser.
Mas, o medo de expor-me para aqueles que vêem e julgam como se passasse pelo juízo final (e se fosse o final, antes só pele do que espremida e arrependida de tudo que não vivi), gela as ações de me aproximar.
Cansei. Das satisfações, das contradições, das explicações e principalmente da angústia sentida por esconder o que nem segredo é.
Cansei de me conter. Mas sem essa emoção, toda guardada no peito para ser extravasada no travesseiro, no choro, no chuveiro, não teria graça. A verdade não tem graça. O jogo é necessário, o instinto animal exalando da pele... A traição, a culpa, o desejo.
Não... Minto! Ou será que me iludo tentando acreditar na sinceridade?
Se tirassem todos os tabuleiros, os piões, os dados, quem poderíamos manipular?
O amor, como num golpe fatal, nos derruba no jogo e nos mostra toda a verdade que tentamos esconder para nós mesmos.



Quadro: Mulher com Máscara - Lorenzo Lippi