sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

No Alasca de meu coração

Se estivesse perto
Te colocaria longe, longe
Na parte mais remota de minha cabeça
Preenchendo com minha imaginação
toda sua capa de realidade.
Recheado, me esbaldava de mim
em você.

Quando se afasta me refugio nas verdades dos outros
Buscando gotas suas em salivas alheias
Juntando fotografias estranhas
E você ao fundo,
como em minhas memórias
A realidade, distante dos meus anseios secretos,
escorre pelos veios do imaginário
engana essa sede insaciável do que eu fiz
de você.

Me engano, sei disso. Nunca busquei verdade alguma em meus desejos
O que mais dói, porém, é ver o meu pulsar mais forte interligado ao seu existir. Se não existisse, seria morta, folha seca caída no chão logo coberta por tantas outras mil que caem sem pensar. O tronco mãe expulsando a vida para uma permanência estática e semi-morta. Me confundo em tronco e folha seca. Não sei se expulso toda essa vida em amargas conclusões ou se permaneço parada esperando o aquecer da primavera, após o longo inverno.
Mas sempre gostei do frio. Ele embranquece os mais escuros pensamentos e pede o calor dos corpos juntos como num ninho de vida, uma contradição do existir. Congela os sentimentos e exige carne, calor. Reserva de energia em tabletes anatômicos. O descabido que se encaixa perfeitamente, iluminando o até então escuro pudor.

Agasalhada por panos sem pele, em mortas células vegetais penso em ti. Te vejo nos mais caloroso risos e pulso pela dor do não estar lá. Se estivesse não riria. Seu riso é falsidade e ao me apresentar te mostro verdadeiro para toda platéia, sem nenhum aplauso. Eletrizada por esse poder desabrocho em flor. Eis que chega a primavera, mais cinza do que nunca. Todo colorir foi entubado em potinhos selados. O branco do inverno permanece, como se todo sangue que jorrou e pretiou o piso fosse retirado pelos mais fortes alvejantes da não-emoção.

O meu pulsar é ilusão. O meu pulsar é meu, sou eu escondida em você. Toda essa neve acumulada, toda essa sede de vermelho-sangue depositada em você. Não suporto esse peso. E me confundindo em cores e não-cores, em invernos acalorados, em gostos dos lábios mais distantes, consigo seguir afastando o meu pensar. Você, lá longe, carrega todo esse peso de vida real. Sendo irreal, suporta.
Se existisse de verdade, desabaria.