quinta-feira, 21 de maio de 2009

Sandro Botticelli (?1445-1510)

"Sua arte foi um gesto de fé, uma visão mística, uma forma de chegar a Deus"
Coleção "Gênios da Pintura" - Volume I

Alegoria da Primavera

Alessandro di Mariano di Vanni Felipepi, Sandro (diminutivo de Alessandro) Botticelli (alcunha atribuída ao pintor, de "botticello" que significa "barrilzinho") se aproxima mais de Frá Angélico que os pintores de sua época (Leonardo da Vinci, Michelangelo e Raffaello). Isso se deve ao fato do pintor defender um ideal cristão, mesmo apresentando elementos clássicos em sua obra. Além disso, Botticelli foge de regras rígidas de perspectivas, expressando em sua pintura uma beleza interior, não retratando a realidade exterior. Essa realidade interior é mística e simbólica, aproximando-o dos pintores medievais. "É o pintor de seu século que mais se afasta da experiência dos sentidos" (Coleção "Gênios da Pintura"). O neoplatonismo defendido pelo artista liga sua arte ao belo e o belo é determinado por Deus, portanto, revelar a Arte e a Beleza clássica é um dom divino, aproximando o pintor a Deus.

O nascimento de Vênus

No quadro Alegoria da Primavera (1478 - Galeria Uffizi, Florença), o artista retoma elementos da antiguidade clássica, a perspectiva é colocada num papel secundário e Botticelli não se preocupa em ser fiel à anatomia das personagens, buscando a beleza nas curvas, ritmo e leveza da pintura. O mesmo ocorre em O nascimento de Vênus (1484 - Galeria Uffizi, Florença), em que a deusa Vênus pode simbolizar a verdade e a pureza. Uma leitura dessa obra é a comparação da deusa com a alma cristã, que emerge das águas do batismo. A busca da leveza de Vênus é observada, além de outros fatores, nas curvas de seu corpo, reforçadas pelo ângulo do pescoço e curvatura de seu tronco, como se o sopro dos deuses estivessem levando-a. Prova-se o rompimento de Botticelli com o elemento naturalista da arte renascentista, já que a proporção anatômica não é caráter fundamental em sua pintura.

No final de sua vida, numa época de grande fervor religioso, Botticelli se dedica a pintura de temas religiosos, com certa inquietude e maior abandono dos valores renascentistas como pode ser observado na tela Piedade (aproximadamente 1490 - Velha Pinacoteca, Munique) e na tela Natividade (1501 - Galeria Nacional, Londres).



Piedade

É importante notar que a arte de Botticelli está na busca da beleza, seja ela clássica ou medieval, sempre retratando realidades interiores, não seguindo regras rígidas de sua época, descobrindo o belo em cada elemento e pintando, com amor e fé, em busca de uma aproximação com Deus.


Natividade

Botticelli nos serve de exemplo, então, já que buscamos verdades que acreditamos muitas vezes estar em dados externos, em livros ou em tendências. Esquecemos de nos vasculhar interiormente e se isso acontece, sentimos medo de expor para o mundo a nossa realidade interior. Botticelli a expôs, tornando-se um dos maiores pintores que conhecemos. Me pergunto o que cada indivíduo guarda dentro de si, e o que isso pode acrescentar para o mundo. Na época em que a ciência nascia, Botticelli abandonou as regras que surgiam para ser fiel a seus sentimentos e convicções. Será que nós somos fiéis as nossas convicções e sentimentos? Ou apenas acreditamos em fórmulas que nos são colocadas como verdade? Seguimos tendências sim, porque vivemos em sociedade. Botticelli provavelmente também foi influenciado por sua época, mas conseguiu ser verdadeiro através de sua arte.

Qual o meio de atingir nossa Verdade?

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