quarta-feira, 30 de julho de 2008



E se fosse palpável?
Não, não seria interessante.
Gosto da dor. Gosto do sangue.
Gosto do que me vem à cabeça.
Você é da minha cabeça...
Assim como todo o resto.

É preciso um espaço – o impossível – para eu poder preencher com meus pensamentos.
Temo a isso.
Me apaixono por aquilo que criei.
Então nada é verdadeiro? Tudo é verdadeiro.
De acordo com minhas verdades, minhas vontades.
Se fosse palpável descobriria sua verdade.
Viveria o seu viver
Te anularia em mim.
Me anularia em você.

E temo.
Temo teimando.
Teimo queimando em paixão
Em vontades...
Minha carne está seca por carne.
Está com sede de suor, sede de saliva.
Quero calor, força, dor, odor.

E se descubro uma fresta de você, um pedaço não imaginado
Gosto.
Me apego àquilo, fico a pensar. Penso e crio.
Remonto.
E se te provasse mais, não sei.
Não sei...
Poderia ser diferente. Mas até o diferente se fez passado por não criar.

Então confirmo.
O mundo todo finge
A felicidade e a paz.
Não acredito em eternidades, meus conceitos mudam
e creio que irão mudar até me descobrir só.
E me enxergando sozinha, aceito o fato, carrego o fardo.
O fardo da vida como ela é... E quando o fardo virar farpa
(pequena, sem me incomodar)
Dou as mãos à realidade. Faço as pazes com ela.

Não quero soar pessimista. Não escrevo isso com pesar.
Apenas acredito na solidão.
Ela é uma grande amiga, que nos traz a nós mesmos.
Sem ela nos escondemos.
Dura como uma mãe ensinando aos filhos
Que o doce nem sempre faz bem
Que o amor nem sempre sacia.

Mas com piedade, se aprendemos a lição
E cumprimos com o dever de nos aceitar,
Ela mostra os encaixes da vida...
Se faz necessária por um tempo, mas logo some,
sem mágoas...
Desejando boa sorte numa vida de descobertas
Pois também nos aprendemos em outros.

Tropeço em mim
Repreendo-me por não aceitar, mimada, o espelho que me dão.
Minha menoridade vem da dependência
E só a razão pode me salvar.
Vem Kant, me mostrar à ilustração,
Quero logo me comandar.
Transformaram em lei suas idéias,
E estipularam número de invernos vividos
Para alcançar a luz.

Tolice.
Mas não se trata disso.
Tudo que penso, num baque qualquer, parece besteira.
Releio tudo, rio-me...
E termino meu poema.
_______________________________________
Imagem: Estudo das fases da lua de Galileu. Os desenhos são da obra Nuntius sidereus publicada em 1610 (dado do livro "Iluminismo - A revolução das luzes")
Motivo da imagem: Sei lá bicho...
Texto: Sem título agora, quem sabem um dia não coloco um nome.
Recomendação do dia (ai que gay): Filme -> Nome Próprio (Mais? Fuce aí: http://nomepropriofilme.blogspot.com/) Excelente! Muito bom!!
Por hoje é só galerinha!
Puf!

4 comentários:

Unknown disse...

Está escrevendo cada vez melhor...
Depois queria conversar com você sobre esse poema, muitas referências nele...hehe


Bjão!

Mário Augusto disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Se a gente conhecesse a fundo se tornaria raso. É. "Que o amor nem sempre sacia." Você brota Mari. Você brota. Não fica raso. E vendo bem lá o fundo se vê mais escuro, e se sente mais longe que, assim, vem mais eco. E brota o doce do dia, do amargo inoportuno passo. Vai sendo Mariana que te querem bem, vai sendo Mari.

Funda. E assim de longa a gente funda o resto.
Te amo.

Sam disse...

Muitas verdades foram ditas aqui, adoro a forma como escreves.

Um grande beijo!!!